segunda-feira, 25 de junho de 2012

O trabalho de sorrir...

"Abrir um sorriso é começar a mudar o mundo"

Sorrir é reconhecer o outro como pessoa. Abrir um sorriso é começar a mudar o mundo, porque significa colocar o amor – e não o egoísmo ou o interesse pessoal – no centro da vida humana.
A Encíclica de Bento XVI – Deus Caritas Est sobre o amor apanhou de surpresa os meios de comunicação em todo o mundo. Muitos esperavam um documento que denunciasse os graves males que atingem a nossa sociedade. Mas qual não foi a surpresa quando se depararam com um texto ao mesmo tempo muito sugestivo e muito terno. Num dos últimos parágrafos, o Papa diz: “O amor é uma luz – no fundo, a única – que ilumina constantemente o mundo em trevas e nos dá a força para viver e agir. O amor é possível, e nós podemos pô-lo em prática, porque fomos criados à imagem de Deus. Viver o amor é levar a luz de Deus ao mundo. Este é o convite que desejaria fazer com esta Encíclica”. Um pouco antes, havia explicado que “o amor não se reduz a uma atitude genérica e abstrata, mas requer um compromisso prático aqui e agora”. Uma das maneiras de pô-lo em prática é dar-se ao trabalho de sorrir.
Como todos apreciamos o sorriso amável das pessoas! Ao mesmo tempo, como é frequente que nos recusemos a sorrir! É estranho que, gostando tanto de que as pessoas nos atendam com um sorriso, nós sejamos, às vezes, tão renitentes em sorrir para a pessoa que nos pede um pouco de atenção. Os meios de comunicação, habitualmente, mostram-nos rostos violentos, irados ou doloridos, que nos comovem, mas quando nos põem, diante dos olhos, caras sorridentes, tendemos, com frequência, a considerá-las falsas e forçadas, pensando que essa amabilidade seja apenas um disfarce, uma tática para conseguir algum proveito ou interesse próprio. Da mesma forma, achamos difícil que alguém nos possa acolher com um sorriso afetuoso sem nos conhecer, mas, ao mesmo tempo, todos nos lembramos da maravilhosa experiência de um sorriso que nos acolheu logo no início da manhã e que foi capaz mudar o nosso dia.
É uma pena menosprezar o sorriso, pois é um dos mais típicos traços do ser humano. Ludwig Wittgenstein – que muitos consideram o filósofo mais profundo do século XX – anotava numa obscura passagem das suas Investigações Filosóficas: “Uma boca sorridente só sorri num rosto humano”. Com essas palavras, Wittgenstein afirma que, para haver um sorriso, é preciso que haja um rosto humano que dê significado a ele; mas, talvez, sugira também que um rosto só é plenamente humano quando sorri.
Os filósofos da escolástica medieval já haviam percebido que a capacidade de sorrir é uma característica própria dos seres humanos, uma propriedade derivada, necessariamente, de sua essência. Omnis homo risibilis est, diziam: “Todo homem é capaz de rir”. Dar-se ao trabalho de sorrir é um modo aparentemente simples de tornar este nosso mundo um pouco mais humano e, assim, tornar mais humana a nossa própria vida.

Para entender um pouco mais, vale a pena recordar a gênese do sorriso, o modo como ele surge na criança. Segundo dizem os especialistas em desenvolvimento infantil, quando um bebê se sente satisfeito, apresenta no, arco bucal, um reflexo espontâneo que faz a mãe pensar que ele está sorrindo. Emocionada com o aparente sorriso do seu bebê, a mãe o premia com carícias e festinhas afetuosas. Por sua vez, entusiasmada com essa onda de ternura efusiva, a criança corresponde imitando a expressão do rosto materno com um sorriso ainda mais franco e aberto. Esse processo educativo tão peculiar mostra que o sorriso não é um mero reflexo espontâneo de prazer, mas sobretudo uma valiosa conduta comunicativa.
Certa vez, uma aluna do doutorado veio visitar-me junto com a sua filha Carmen, que tem pouco mais de um ano. Demos à menininha um brinquedo simples para entretê-la enquanto conversávamos sobre filosofia. Em um dado momento da conversa, quando rimos abertamente de uma piada filosófica, Carmen uniu-se entusiasmada às nossas risadas, como se tivesse entendido alguma coisa. Com essa risada espontânea, deu-nos uma verdadeira lição de filosofia: rir juntos, sorrir uns para os outros, cria espaços formidáveis para a comunicação.
Sorrir é reconhecer o outro como pessoa: sorrimos para o porteiro ao entrarmos no edifício onde trabalhamos, mas não para a máquina de fotocópias que está no corredor. Existem pessoas nas quais o sorriso parece ser natural. Vem-me à memória o maravilhoso sorriso de João Paulo I, que, nos breves dias do seu Pontificado, encheu o mundo de esperança. No livro que ele escreveu, poucos anos antes, intitulado 'Ilustríssimos Senhores', podemos ler o seguinte: “Infelizmente, só posso viver e distribuir amor no corre-corre da vida cotidiana. Nunca tive de fugir de alguém que estivesse querendo matar-me, mas não faltam aqueles que põem a televisão alta demais, ou fazem barulho, ou simplesmente são mal-educados. Em todos esses casos, será preciso compreendê-los, manter a calma e sorrir. Nisso consistirá o verdadeiro amor sem retórica”.
Tudo leva a crer que um sorriso, aparentemente tão natural, é fruto de um prolongado esforço de muitos anos. Algo parecido contava-me um colega, relatando a sua experiência: “Há épocas – dias – em que sorrir é um ato heroico, pelo menos para mim; dias em que dormimos mal, dias em que não nos sentimos bem, física ou psicologicamente; dias em que temos preocupações ou a cabeça tão ocupada que não conseguimos colocá-la nas pessoas que se encontram ao nosso lado. Mas se você se propuser, conseguirá sorrir e até arrancará comentários do tipo: 'Você, sempre sorrindo! Como deve estar de bem com a vida!'. Mal sabem eles o quanto cada sorriso está me custando!”
O sorriso suscita sempre muita gratidão, tal como no caso da mãe com o seu bebê. Quem sorri colhe, muitas vezes, o sorriso e o afeto dos outros. É muito conhecida aquela afirmação de William James, um dos fundadores da psicologia contemporânea: “não choramos por estarmos tristes, estamos tristes, porque choramos”. Parece-me que algo semelhante se pode dizer do sorriso. De fato, quando encontro pessoas que sofrem por causa do seu isolamento, das suas dificuldades de comunicação com os outros, costumo animá-las a que se empenhem em sorrir para os que estão à sua volta; não sorrimos, porque estamos contentes, mas estamos contentes porque sorrimos. Não importa que, num primeiro momento, o sorriso seja forçado ou pareça artificial, mas depois, com a prática repetida, vai-nos tocando por dentro até que chega a alegrar o coração.
Alguns pensam que a história humana é movida pelas guerras, que o motor do progresso social e científico são os conflitos e os confrontos. Mas Bento XVI nos recorda, com a sua Encíclica, que é precisamente o contrário: o motor da história – se é que a história tem um motor – é o amor, é o diálogo e a comunicação entre as pessoas e entre os povos. O que ele nos ensina é que mudaremos o mundo à base de carinho. Neste sentido, pôr-se a sorrir é começar a mudar o mundo, porque significa colocar o amor – e não o egoísmo ou o interesse pessoal – no centro da vida humana. Por isso, se quisermos começar a mudar o mundo, vale a pena levar a sério o trabalho de sorrir.
Jaime Nubiola

sábado, 23 de junho de 2012

Construir a santidade no cotidiano...

 
"Aprendendo com a vida e missão de João Batista"
 
Santidade é vocação de todos os cristãos, sem exceção. A redescoberta da Igreja, como um povo unido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo não pode deixar de implicar um reencontro com sua santidade, entendida no seu sentido fundamental de pertença àquele que é o Santo por antonomásia, o três vezes Santo (cf. Is 6,3). Professar a Igreja como santa significa apontar o seu rosto de Esposa de Cristo, que a amou entregando-se por ela precisamente para santificá-la (cf. Ef 5,25-26). Este dom de santidade é oferecido a cada batizado. Mas, o dom gera um dever, que há de moldar a existência cristã inteira: "Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação" (1 Ts 4,3). É um compromisso que diz respeito aos cristãos de qualquer estado ou ordem, chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Significa exprimir a convicção de que, se o batismo é um ingresso na santidade de Deus, por meio da inserção em Cristo e da habitação do Seu Espírito, seria um contrassenso contentar-se com uma vida medíocre (Cf. Novo Millenio ineunte 30-31).
A formação da cultura dos povos é marcada positivamente pela presença da Igreja e por homens e mulheres que se elevam pelo seu comportamento e suas opções de vida, mostrando que, efetivamente, é possível sair da rotina do “mais ou menos” para confirmar que uma alma que se eleva, eleva o mundo. Tenho descoberto esta santidade em homens e mulheres que a testemunham na fidelidade ao Evangelho, na coerência de suas opções e na estatura com que enfrentam as dificuldades da vida. Há de se abrir os olhos e descobrir tais pessoas, vendo-as como provocação positiva ao risco de acomodamento que nos cerca continuamente.
A Igreja reconhece, publicamente, a santidade com o que chama de “beatificação” e “canonização”. Hoje, o Brasil já conta com diversas pessoas assim reconhecidas, entre cristãos leigos, religiosos ou sacerdotes, crianças, jovens e adultos, confessores da fé e mártires. São homens e mulheres, cuja santidade heroica merece ser posta diante dos olhos do mundo. Não nos envergonhemos de dizer que os cristãos têm para oferecer ao mundo o que existe de melhor em humanidade. Não nos furtemos à responsabilidade de superar as falhas humanas existentes com a virtude comprovada e testemunhada. Nosso tempo tem direito a receber dos cristãos a oferta da santidade. Ao reconhecer que o mistério da iniquidade se encontra presente no meio do mundo e também entre os cristãos, continue como referência a medida alta da santidade!
No período em que nos encontramos, chamado pela Igreja de “tempo comum”, as verdades do Evangelho são mostradas a todos pelo testemunho dos santos e santas que se consagraram a Cristo e são sinais luminosos de luta e de perfeição, além de reconhecidos como valorosos intercessores para aqueles que acreditam “na comunhão dos santos”, como dizemos na Profissão de Fé. E como sempre acontece, os santos de maior devoção geraram cultura e hábitos na sociedade. Multiplicam-se as festas patronais em nossa região, muitas pessoas retornam a sua terra natal para as férias que se aproximam e para se alimentarem de legítimas e positivas tradições religiosas que contribuem para que se tome consciência de que não nos inventamos a nós mesmos, mas somos tributários de uma magnífica herança, como tocha da grande olimpíada da vida a ser mantida acesa e passada às sucessivas gerações. São conhecidos de forma especial os santos do mês de junho, Santo Antônio, São João Batista e São Pedro. São figuras que geraram cultura popular entre nós.

Ponho em relevo, de modo especial, a figura de São João Batista, cujo nome, vida e missão são reconhecidos pela tarefa que a Providência Divina lhe confiou, como precursor da chegada do Messias, aquele que mostrou presente o Salvador do mundo, pregador da penitência, capaz de abrir, nos corações humanos, a estrada para que chegasse Aquele “que tira os pecados do mundo”, como foi por Ele mesmo apresentado (Cf. Jo 1,29).

Um dia, Jesus recebeu emissários de João Batista com a pergunta sobre sua identidade de Messias. De fato, João se revelou sempre radical em suas escolhas e profundamente honesto em seu desejo de fidelidade à missão recebida. Mandou-lhe a magnífica resposta: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são curados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia a Boa-Nova. E feliz de quem não se escandaliza a meu respeito!” (Mt 14,4-5). Às multidões de ontem e de hoje, Jesus fala sobre João Batista: “Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Olhai, os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um profeta? Sim, eu vos digo, e mais do que profeta. Este é de quem está escrito: 'Eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho diante de ti'" (Mt 14,7-10).

Viver para servir, ser honestos na procura da verdade e coerentes no comportamento. Com exemplos de tal quilate, descobrimos o quanto é bom viver para servir e amar. A vida e a missão de João Batista, unidas à sua oração fervorosa, nos façam acolher as verdadeiras alegrias vindas do Salvador e nossos passos se dirijam no caminho da salvação e da paz.
Dom Alberto Taveira Corrêa

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Comunidade Santa Teresinha celebra a Solenidade de Corpus Christi...

"No último dia 7 a Igreja celebrou a solenidade de Corpus Christi. E na Comunidade Santa Teresinha este dia foi celebrado um carinho ainda mais especial, pela primeira vez foi preparado o tradicional tapete de serragem. O trabalho ficou sob a responsabilidade do Grupo de Jovens, que com alegria trabalhou para que o resultado fosse o melhor para Nosso Senhor Jesus Cristo!"

Abaixo alguma fotos deste dia tão especial e inesquecivel:








quinta-feira, 7 de junho de 2012

Origem da festa de Corpus Christi...

Eucarista: Corpo e Sangue de Jesus

Todos os católicos reconhecem o valor da Eucaristia. Podemos encontrar vários testemunhos da crença da real presença de Jesus no Pão e no Vinho consagrados na Santa Missa desde os primórdios da Igreja.

Mas, certa vez, no século VIII, na freguesia de Lanciano (Itália), um dos monges de São Basílio foi tomado de grande descrença e duvidou da presença de Cristo na Eucaristia. Para seu espanto, e para benefício de toda a humanidade, na mesma hora a Hóstia consagrada transformou-se em Carne e o Vinho consagrado transformou-se em Sangue. Esse milagre tornou-se objeto de muitas pesquisas e estudos nos séculos seguintes, mas o estudo mais sério foi feito em nossa era, entre 1970/71, e revelou ao mundo resultados impressionantes:

A Carne e o Sangue continuam frescos e incorruptos, como se tivessem sido recolhidos no presente dia, apesar dos doze séculos transcorridos. O Sangue encontra-se coagulado externamente em cinco partes; internamente ele continua líquido. Cada porção coagulada de sangue possui tamanhos diferentes, mas todas possuem exatamente o mesmo peso, não importando se pesadas juntas, combinadas ou separadas. São Carne e Sangue humanos, ambos do grupo sanguíneo AB, raro na população do mundo, mas característico de 95% dos judeus. Todas as células e glóbulos continuam vivos. A Carne pertence ao miocárdio, que se encontra no coração (e este órgão sempre foi símbolo de amor!).

Mesmo com esse milagre, entre os séculos IX e XIII surgiram grandes controvérsias sobre a presença real de Cristo na Eucaristia. Alguns afirmavam que a ceia se tratava apenas de um memorial que simbolizava a presença de Cristo. Foi somente em junho de 1246 que a festa de Corpus Christi foi instituída, após vários apelos de Santa Juliana, cujas visões solicitavam a instituição de uma festa em honra ao Santíssimo Sacramento. Em outubro de 1264 o Papa Urbano IV estendeu a solenidade para toda a Igreja. Nessa celebração religiosa, o maior dos sacramentos deixados à Igreja mostra a sua realidade: a Redenção.

A Eucaristia é o memorial sempre novo e sempre vivo dos sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo por nós. Mesmo separando Seu Corpo e Seu Sangue, Jesus se conserva por inteiro em cada uma das espécies. É pela Eucaristia, especialmente pelo Pão, sinal do alimento que fortifica a alma, que tomamos parte na vida divina, nos unindo a Cristo e, por Ele, ao Pai, no amor do Espírito Santo. Essa antecipação da vida divina aqui, na Terra, mostra-nos claramente a vida que receberemos no Céu, quando nos for apresentado, sem véus, o banquete da eternidade.

O centro da Celebração Eucarística será sempre a Eucaristia e, por ela, o melhor e o mais eficaz meio de participação no divino ofício. Aumentando a nossa devoção ao Corpo e Sangue de Jesus, como Ele próprio estabeleceu, alcançaremos mais facilmente os frutos da Redenção!

Felipe Aquino

Parabéns dizimistas...


A Comunidade Santa Teresinha se alegra em celebrar o dom da vida dos dizimistas aniversariantes do mês de junho:

Antonio Jose do Bem
Domingos Novaes C. Lima
Edorival dos Santos Junior
Erimita Rodrigues Ricardo
Jeanete Ribeiro Mariano
Joana Judith Romão P. Rodrigues
João Pedro de Andrade
Katia Barbosa dos Anjos
Maria Rubia de Brito
Karla Custodia A. Coelho
Marinalva Porto da Silva
Nena Vicanta Gutierrez
Olivia de Jesus do Bem
Zaira Soares Donato

"Que Deus em sua infinita bondade abençoe a vós e as vossas famílias, que Nossa Senhora esteja sempre a interceder por vós e que Santa Teresinha derrame sobre vós uma chuva de rosas de bençãos do céu!"

sábado, 2 de junho de 2012

Seja feita a Tua vontade...

"Assim na terra como no céu..."
Com muita frequência, nós nos deparamos com os resultados de pesquisas destinadas a compor estatísticas que avaliam as tendências de nosso tempo nas diversas áreas da vida e da atividade humana. Trata-se de uma atividade inteligente, com metodologia precisa, cada vez mais apurada. Durante a semana que passou, já estavam à disposição levantamentos a respeito do que os eleitores levarão em conta nas próximas eleições municipais. Os comerciantes estão sempre atentos às tendências de mercado, os meios de comunicação conferem sua audiência, e daí por diante. Também as estatísticas religiosas nos interessam. Queremos saber com quem estamos tratando, como as pessoas recebem nossas mensagens, o efeito prático de nossa pregação e daí por diante. É que todos querem saber em que chão estão pisando.

Há alguns dias, veio-me um desejo diferente: o de tornar-me, como um texto lido há alguns anos, um contador de estrelas, olhando para o alto ao invés de olhar apenas para o chão, sonhar com o Céu e não apenas constatar a realidade que nos circunda. E redescobri a oração do Pai-Nosso, tão antiga quanto nova e revolucionária. Para rezá-lo, veio-me de forma espontânea o sinal da cruz. Antes de "Pai nosso" eu disse: "Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". Vi que traçava, junto com as palavras, a cruz de Cristo sobre mim. Pareceu-me ver o universo aberto de forma diferente, com uma haste voltada para o alto, para o infinito. A outra abraçava o mundo. O contador de estrelas começou a sonhar, mas com os pés no chão!

Vi que existe no alto um modelo para caminhar na terra. De fato, há um “plano” pensado desde toda a eternidade, há um sonho de Deus para a humanidade. Seu nome é santificado porque as pessoas são chamadas a viver voltadas para fora de si, abertas para amar e não dobradas sobre os próprios interesses. Como sou livre, incomodou-me um pouco pensar que, no desenho do projeto de Deus, está escrito que é para fazer a Sua vontade, até que entendi que, numa reunião de amor, cuja duração se estende por toda a eternidade, a família de Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, tramaram a estratégia da felicidade. Pareceu-me ver, olhando para as estrelas iluminadas no horizonte da fé, que é mesmo melhor fazer o que agrada a Deus, pois Ele é infinitamente mais inteligente do que todas as mentes humanas.

E foi então possível rezar de novo “venha a nós o vosso Reino”, constatando que é melhor implantar o Reino que precede e pode iluminar todos os reinos do mundo. Se eu tivesse em mãos todas as constituições de todos os países, e a elas ajuntasse a avalanche de leis que os homens e mulheres elaboram a cada dia, no afã de encontrar saídas para os problemas de nosso tempo, descobriria nelas os rastros daquele “plano”, porque sei que estão plantadas por aí muitas sementes do Verbo de Deus. É que acredito na ação misteriosa e verdadeira do Espírito Santo, que planta o bem onde nós menos esperamos.

Nas estrelas do Céu de Deus, vi que estava escrita a lei da providência. Pão do Céu e Pão da terra, pão compartilhado e dividido. Na oração, o sonho de que todos acolham o alimento do Céu e aprendam a lei divina da liberalidade, para que não haja fome nesta terra. Foi bom constatar que a natureza que Deus nos deu foi pensada com inteligência. Não faltam recursos nem comida, mas falta partilha! Quem se volta para o alto descobre a receita da despensa e da cozinha de Deus!
O Céu de Deus, a casa da Santíssima Trindade, é amor eterno. Quando desceu a terra, este amor assumiu a face da misericórdia. Que ousadia e que risco corri ao dizer “perdoai-nos assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Viramos o jogo? O Céu e o Pai do Céu se submetem à nossa capacidade de perdoar? É que o plano de Deus nos introduziu num verdadeiro jogo de amor. Numa nova “escada de Jacó” (Cf. Gn 28,12 e Jo 1,51), o Céu e terra partilham seus dons, ainda que o Céu seja sempre o vencedor, pois a vitória que vence o mundo é a fé!

Para chegar a tais alturas, aquele que nos livra do mal nos liberte também da tentação de olhar somente para baixo, nivelando o mundo ao rodapé das constatações frias. Deus tem a palavra e Ele é mais inteligente do que minha pobre percepção da vida. Olhando para Ele, que é família e não solidão, sonhei com o mundo “passado a limpo”, como foi pensado para a felicidade de todas as criaturas de todos os tempos.

Sonhei tanto que rezei assim: “Ó Deus, nosso Pai, enviando ao mundo a Palavra da verdade e o Espírito santificador, revelastes vosso inefável mistério. Fazei que, professando a verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a Unidade onipotente”. E disse “Amém”. E sonhei de novo toda a humanidade vivendo o Céu, na terra e na eternidade!
Dom Alberto Taveira Corrêa